domingo, 2 de agosto de 2009

Texto


Dia primeiro de fevereiro, era verão e nem estava tão quente. Em um quarto de hospital postava meu semblante, ao lado uma cama com um paciente especial. Já senhor com cabelos lisos e desgrenhados, no rosto marcas de um possível conformismo do que estaria por vir, em silencio póstumo e único, olhar já vazio e sem esperanças.
Não se parecia com o herói que havia em minha mente, forte e destemido, mais mesmo com todos os contras ainda era meu herói favorito.
A noite começou bem, sentado ao lado da cama em uma cadeira reclinada, estou. A cada 20 minutos ajudo-o a ir ao banheiro, suas pernas fracas não suportam talvez o próprio peso. Conversas simples e objetivas, ele monossilábico, responde a todas minhas perguntas.
Enfermeiras entram á todo momento para verificar como estão todos os pacientes, junto a nós estavam mais três pacientes.
Eu estava decidido a lhe dizer algumas palavras, de conforto ou de agradecimento, tinha medo não queria perde-lo, pois as chances de ele continuar comigo eram mínimas, mesmo assim, eu ainda acreditava na possibilidade.
As horas foram passando e eu ainda sem conseguir soltar o que estava entalado em minha garganta, tentava balbuciar alguma coisa mais nada saia. O olhar penetrante do herói esperando alguma reação minha, alguma coisa, alguma luz. E me acovardando cada vez mais, não conseguia falar nada do que queria, e o relógio jogava contra eu.
Busquei forças e me senti preparado, mas era tarde, era hora da troca de companhia. Decepcionado comigo mesmo dou um beijo no herói e antes de sair noto que ele estava chorando.
Foi a ultima vez que vi meu pai. Eu não tive a coragem de dizer o quanto ele era importante pra mim, queria ter agradecido, mostrado a ele o quanto eu tinha crescido e aprendido, mas a falta de coragem me impediu. Talvez já soubesse, talvez ele não precisasse ouvir, mas eu queria ter dito eu precisava ter dito.
Falhei e arrependido eu vivo mas tenho a certeza, que eu nunca mais irei falhar. Quanto ao herói, ele partiu e ainda hoje sonho com seus abraços, com seu cheiro e com seu olhar penetrante.
A única coisa que hoje consigo falar pra ele em sonhos que ainda tenho é: “ eu sinto a sua falta”

Um comentário:

  1. Só mesmo quem conhece o amor entre Pai e Filho pode descrever isso em palavras tão lindas,
    que demonstram um sentimento puro e verdadeiro,
    Todo bom filho é um bom Homem e merece admiração,a partir d hoje sou tua leitora e admiradora.
    Bjos no coração!

    Andreza.

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